quarta-feira, 28 de maio de 2014

O dom do perfeito arrependimento - Olavo de Carvalho



27mai2014
Eu sugiro que você – aqueles que podem fazer isso – reze o terço todos os dias pedindo o dom do perfeito arrependimento. Peça só isto. Peça bastantetempo e, um dia, o Espírito Santo começa a desempenhar aquilo que é exatamente a função dele, que é mostrar qual é exatamente o seu pecado.
Se nós soubéssemos exatamente os nossos pecados provavelmente nós não os cometeríamos, mas nós vivemos numa espécie de confusão.
Você não pode esquecer o seguinte: todos nós temos um eu substancial, aquilo que nós realmente somos no plano da eternidade, aquilo que seremos eternamente.
Durante a experiência desta vida nós criamos várias imagens que, umas, nascem da nossa própria experiência, nascem de atrações, repulsas e temores que nós sentimos em relação ao mundo ambiente, outras nascem da impregnação de papéis sociais que nós desempenhamos, outras nascem da pressão do grupo etc.
São como se fossem pequenos enredos – pequenos filminhos – que você vai criando, às vezes sem perceber, e que você acredita que eles são você. São eles que você geralmente chama de “eu”. E essas coisas realmente não são o seu eu.
O seu eu só pode aparecer perante Deus Todo Poderoso – só neste plano é que você tem um eu. Os outros não são eus. Os outros são simulacros de eus; tanto que eles são provisórios, eles mudam a toda hora.
Mas por baixo disso você tem um que não muda. E dá pra você conhecer este, mas você tem que se afastar das estimulações ambientes.
Quando nós nos afastamos das estimulações ambientes nós dormimos, mas não quando nós estamos orando.
Se você está orando um terço inteiro, você começa a funcionar num outro ritmo, mais lento e mais permanente e, aos poucos, quem você verdadeiramente é vai aparecendo.
Vai aparecendo, primeiro, sob a forma de quais são realmente os seus pecados; aqueles mais antigos, os mais constantes, os mais permanentes, que são, por assim dizer, as mães de todos os outros. Aí você começa a se conhecer.
Você conhece primeiro o seu estado espiritual, porque, quando nós pensamos sobre os nossos pecados, nós geralmente caímos naquele discurso interno de acusação e defesa, onde você se imagina pior do que é e, então, você começa a argumentar em defesa própria, tudo num tribunal que você mesmo inventou. Não é o tribunal de Deus: é um tribunal da sua própria invenção, um tribunal que você teme.
Então, quanto mais você se defende, mais você se acusa, e assim por diante, então fica um diálogo interior absolutamente sem sentido.
Noventa e nove por cento do que as pessoas chamam de moral é isto – e isto tudo é tremendamente imoral!
Então, nós temos que nos apresentar sinceramente perante o Deus eterno e dizer isto: me dê o arrependimento perfeito, de modo que eu saiba quem eu sou e eu não minta mais pra Você.
Porque mentir pras pessoas ou mentir pra nós mesmos, bom… Freqüentemente nós mentimos. A mentira é um elemento fundamental da vida social.
Aquela estória do Kant de que nós nunca podemos mentir, nem para um ladrão que nos pergunta onde nós escondemos o dinheiro, isso é uma moral absolutista inteiramente psicótica.
Na própria Bíblia tem o exemplo de mentiras. Quando Abraão mente para um sujeito, fingindo que a mulher dele era apenas irmã dele, ele mente para se livrar de uma situação. Todos nós fazemos isto e não há como escapar dessas coisas.
Mas, o pior é nós mentirmos pra Deus, como tem no caso de Caim. Deus O procura e ele se esconde. Mas não há onde você se esconder de Deus. Você só tem um lugar pra você se esconder Dele: é Nele mesmo.
Então você acaba aceitando a se abrir pra Deus – estou falando tudo isso de experiência pessoal, isso eu não aprendi em livro de teologia, nem em coisa nenhuma e posso até estar dizendo besteira, mas é a minha experiência e essa experiência foi observada, foi séria.
Quando você, depois de rezar o terço muito tempo, entrar naquela espécie de monotonia consciente, então, você realmente entra num outro ritmo, um ritmo mais profundo, mais permanente.
Aí, pela primeira vez, você tem um vislumbre de quem você é de maneira permanente. O que você é desde o instante em que você nasceu. E o que você será eternamente.
Esta é o que eu chamo de a consciência da imortalidade.
A partir da hora em que você alcança a consciência da imortalidade, a qual é intermitente, você não consegue permanecer nela, você vai cair na dispersão de novo e de novo, mas você pode também voltar de novo e de novo, quantas vezes quiser.
Eu creio que uma pessoa santa, um homem como o Padre Pio, por exemplo, vive permanentemente nessa esfera. Ele já não cai mais para a dispersão.
E aí acontece que as suas ações no mundo cotidiano começam a expressar algo daquilo que você realmente é. E, portanto, algo daquilo que Deus realmente quer que você seja.
Aí você começou a servir a Deus.
Até lá você não serviu nada, não vem com conversa mole, ninguém está servindo a Deus e tudo o que nós vamos fazer é pedir uma coisa pra Ele. Pedir é o único serviço que nós realmente podemos fazer.
Chega uma hora em que Ele faz você fazer certas coisas cuja conexão com a vontade Dele, às vezes, você ainda não percebe. Mas aí você está servindo a Ele sem perceber, que é a melhor maneira de servi-Lo.
In: COF, aula 165, ca. 68m30s a 75m05s

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