Em Atos dos Apóstolos, encontramos a
confirmação de como a Igreja tem sido revitalizada através da ajuda do
Espírito Santo desde o início de sua vida. As primeiras comunidades, nas
quais a “alegria e singeleza de coração” (At 2, 46) reinavam, eram
ricas em dinamismo, abertura e zelo missionário. Estas comunidades
partilhavam o partir do pão em amor fraternal, iluminadas pela Palavra,
servindo uns aos outros com humildade mútua – e eram um testemunho
autêntico que atraía a admiração daqueles que observavam os discípulos -
estimulando em muitos o desejo pela conversão e por partilhar este novo
estilo de vida. O Evangelho de São João nos oferece uma fotografia
desta nova família espiritual dedicada a amar “Amai-vos uns aos outros,
como eu vos tenho amado” (Jo 13, 34).
Estes irmãos daquele tempo testemunharam
o poder e a eficácia da Palavra: curas, libertações, sinais e prodígios
aconteceram em abundância. Nesta atmosfera, era normal viver sob a
vigorosa ação de Deus, que produzia coragem renovada diante das
perseguições, inspirando um amor profundo e crescente; e tudo isto era o
fruto da Sua presença. Em Atos 1, 8, há uma referência específica à
promessa de Jesus referente à efusão do Espírito e aos resultados
maravilhosos de Sua ação em nossos irmãos daquele tempo. É certo,
portanto, esperar que esta ação continuará a operar na Igreja de hoje
também: toda a Igreja deve ser renovada.
Quando comparamos as primeiras
comunidades de cristãos às de hoje, compreendemos que algo do amor e da
intensidade daquele tempo foi perdido, provavelmente como consequência
de termo-nos tornado mais burgueses e egoístas. A predisposição
autêntica para com o ideal espiritual foi progressivamente diluída e
substituída por um ceticismo frio que entorpece, limita e congela e, em
seu pior estágio, mata. Não deveríamos talvez renovar nossa fé na
promessa de Jesus que nos enviou Seu Espírito Santo no início da
história da Igreja, assegurando-nos também: “Eis que estou convosco
todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20)? Vimos estas palavras de
Jesus se tornarem realidade em diferentes fases da história da Igreja,
particularmente em momentos difíceis devido a conflitos e situações que
fizeram parecer que o barco de Pedro havia afundado: a ajuda divina
nunca falhou e sempre estimulou novos dons espirituais através da
renovação do impulso do Espírito.
Hoje também somos atores e
protagonistas de uma ação renovadora poderosa na Igreja, vivendo em uma
“torrente de graça” abençoada que leva o nome de Renovação Carismática,
um novo convite do Senhor para um Cristianismo que se manifesta através
de sinais e comportamentos evidentes, o fruto de nossa abertura à
maravilhosa ação do Espírito. Esta torrente renovadora envolve toda a
Igreja: não podemos reduzi-la a um simples “Movimento” ou “Associação”; é
um sopro poderoso do Espírito que queima na Igreja para nos tirar de
nossa indiferença e torpor. Devemos recuperar este tipo de experiência,
típica das primeiras comunidades cristãs, confirmando assim o que Jesus
prometeu: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e
fará ainda maiores que estas, porque vou para junto do Pai” (Jo 14, 12).
Para aqueles que dizem que a RCC passará, podemos responder com
convicção de que isto não acontecerá: a Igreja, em toda a sua história,
sempre recebeu do Espírito um sopro renovador em resposta às
necessidades do mundo em cada era... e assim será no futuro” Obviamente,
a fim de colaborar com esta “torrente de graça” neste período da
história, também necessitamos de estruturas que possam garantir um
serviço adequado à Igreja e à sociedade. Com este propósito a Igreja, em
sua sabedoria, considera esta “torrente de graça carismática” também
como um “Movimento Eclesiástico”, canonicamente reconhecido e aprovado.
Assim o Santo Padre, João Paulo II, falou em sua mensagem aos Movimentos
da Igreja e às Novas Comunidades na véspera de Pentecostes de 1998 (30
de maio) na Praça de São Pedro: “É a partir desta redescoberta
providencial da dimensão carismática da Igreja que, tanto antes como
depois do Concílio, aconteceu uma linha singular de desenvolvimento dos
Movimentos da Igreja e de Novas Comunidades”.
O termo “Movimento”,
portanto, se refere às entidades que frequentemente são diferenciadas
umas das outras, mesmo em sua forma canônica. Este termo não é uma
definição rígida, nem tampouco expressa, de forma plena, a riqueza das
formas que surgem da criatividade do Espírito de Cristo que traz vida.
Além disso, também indica uma entidade eclesiástica concreta formada
principalmente por leigos e leigas e que consiste na fé e no testemunho
Cristão que baseiam a razão de sua existência em um carisma específico
concedido ao seu próprio fundador em circunstâncias específicas e
através de métodos específicos. É o Espírito que funda e dá identidade à
RCC. Não temos dúvida quando afirmamos que é Ele que guia a RCC no
caminho que a levou a ser aprovada pela Igreja através do reconhecimento
papal dos estatutos e serviços do ICCRS, em 14 de setembro de 1993,
durante a Festa da Exaltação da Cruz.
Não podemos deixar de salientar
que estes estatutos têm ajudado muitos países na elaboração de seus
próprios estatutos, capacitando muitas comunidades locais da RCC a
desempenhar fielmente tanto a missão de evangelização - através do
testemunho do amor fraternal que Jesus nos ensinou – e da difusão e
promoção da “Cultura de Pentecostes”, tão ardentemente desejada por
nossos amados Papas João Paulo II e Bento XVI. Afirmar, portanto, que a
RCC é uma “torrente de graça” não é uma contradição ao fato dela ser um
“Movimento”. É, de fato, um movimento.... do Espírito Santo. Daí que,
queridos irmãos e irmãs, convidamo-os para que, com Espírito renovado,
deixem-se ser preenchidos pela graça divina a fim de viver e servir a
Igreja fundada por Jesus: a Igreja de ontem, de hoje e de todos os
tempos; a Igreja que Jesus confiou à ação santificadora do Seu
Espírito!
Por Maria Eugenia de Gongora.
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