Não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado!
Dentre
todas as solenidades cristãs o primeiro lugar é ocupado pelo mistério
pascal. Devemos nos preparar para vivê-lo convenientemente. É por isso
que foi instituida a quaresma, um tempo de quarenta dias para chegar
dignamente à celebração do tríduo pascal.
A quaresma, como pratica obrigatoria, foi instituída no IV
século. Mas desde sempre os cristãos se preparavam para a Páscoa com
uma oração intensa, jejum e penitência. O número de quarenta dias tem
um significado simbólico-bíblico: quarenta são os dias do dilúvio, da
permanência de Moisés no monte Sinai, das tentações de Jesus.
Na verdade, se a quaresma é um tempo privilegiado para o nosso
aperfeiçoamento, toda a nossa vida de cristãos deve ser vivida como
esforço para adquirir as virtudes e lutar contra o inimigo, o diabo. Já o
apóstolo Pedro exortava os cristãos: “Sede sóbrios e vigilantes. O
vosso adversário, o diabo, rodeia como um leão a rugir, procurando a
quem devorar. Resisti-lhe, fortes na fé” (I Pd., 5, 8-9a).
Este combate é um combate interior. O papa Leão Magno (440-461) numa
sua pregação, disse: “É agora que os nossos corações devem se mover com
maior fervor para a perfeição espiritual... Muitos combates acontecem
dentro de nós mesmos, os desejos da carne se opõem aos do espírito, e
os do espírito aos da carne... Mas, aquele que está em nós é mais forte
do que aquele que está contra nós”. O mesmo Papa, noutra homilía: “A
quaresma é tempo de limpar e enfeitar a casa por dentro. Convém que
vivamos sempre de modo sábio e santo, dirigindo nossa vontade e nossas
ações para aquilo que sabemos agradar a Deus”.
A nossa vida está posta no meio das dificuldades e dos combates; se
quisermos ser vencedores, é preciso combater. É por isso que precisa uma
oração intensa e contínua. Uma oração não limitada às praticas de
oração, mas entendida como uma vida de profunda intimidade com o Deus
Trindade que mora dentro de nós. Um Autor do IV sec., o
Pseudo-Crisóstomo, escreveu: “Não devemos orientar o pensamento para
Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais
variadas tarefas é preciso conservar sempre vivo o desejo e a lembrança
de Deus. A oração é a luz da alma, alegra a alma e tranquiliza o
coração”.
O jejum é fundamental para a nossa purificação. Mas o fim não é
tanto a abstinência das comidas, quanto dos vicios. Ainda nos exorta o
papa Leão Magno: “Mortifiquemos um pouco o homem exterior para que o
interior seja restaurado; perdendo um pouco do excesso corpóreo, o
espírito robustece-se”. É inútil o jejum se não se praticam as
virtudes. Cuidados para não cair na repreensão de Deus feita pelo
profeta Isaías (58, 1-10)... Precisa cumprir a prescrição que remonta
aos apóstolos, de jejuar quarenta dias; não somente reduzindo os
alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado... O sentido do jejum não
reside somente na abstenção dos alimentos. Esta traz proveito se o
coração se afasta da iniqûidade e a língua se abstenha da calúnia e se
pratica a mansidão e paciência... O jejum tem por objetivo suprimir os
desejos corporais e ações desordenadas”.
O bispo São Pedro Crisologo escreveu: “Homem, oferece a Deus a tua
alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um
sacrificio santo”.
Mas tudo isso não está completo se não se adianta um terceiro
elemento: a penitência, no sentido de ter misericórdia e compreensão
com os outros. Por isso, São Pedro Crisólogo adianta: “Para que esta
oferta seja aceita a Deus, deve acompanhá-la a misericórdia; o jejum só
dá frutos se for regado pela misericordia, pois a aridez da misericórdia
faz secar o jejum”.
Entremos com muita alegria e boa vontade na quaresma de 2013 no dia
13 de fevereiro, mas lembremos que toda a nossa vida deve ter uma
dimensão penitencial.
0 comentários:
Postar um comentário