sábado, 9 de março de 2013

Os mártires da fé

Na história do cristianismo, incontáveis homens e mulheres escolheram entregar suas vidas a renegarem sua fé. O modelo dos mártires confirma a Igreja de todas as épocas e nos ensina que escolher por Jesus não é optar pelo caminho mais fácil, mas pelo caminho certo, independente do contexto histórico em que vivemos.

O cristão tem o dever de dar testemunho da verdade do Evangelho. O mundo de hoje perdeu a referência da verdade. Nossa sociedade está sendo tomada pela “ditadura do relativismo” que não acredita na existência de verdades absolutas e imutáveis, mas de verdades de acordo com a conveniência, a preferência pessoal e os modismos passageiros. Entretanto, o cristão sabe em quem colocou a sua confiança. Sabe que a Verdade existe e tem um nome, ela não é uma doutrina ou um sistema filosófico, mas uma Pessoa: Jesus Cristo!

Portanto, dar testemunho da verdade é ter Cristo como critério e ponto de referência para tudo. Assim, o cristão, “não pode se envergonhar de dar testemunho do Senhor” (2 Tm 1,8). O cristão autêntico deve exclamar como o Apóstolo Paulo: “Eu não me envergonho do evangelho, porque ele é poder de Deus para a salvação de todo o que crê” (Rm 1, 16). Na verdade, as palavras de Jesus aos discípulos da primeira hora continuam valendo para nós, hoje: “Se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, diante desta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier com a glória de seu Pai e acompanhado dos seus anjos” (Mc 8, 38).

Nesse sentido, merece especial atenção o exemplo dos mártires. Quem eram eles senão pessoas que foram até o sangue, até a doação da própria vida para testemunharem a sua fé em Cristo? A palavra mártir vem do grego mártys, mártyros, que significa testemunha. O mártir é uma testemunha qualificada que chega ao derramamento do próprio sangue. De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, n. 2473, “o martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte”. Na verdade, desde o início da Igreja, muitos cristãos tiveram que testemunhar a sua fé ao preço do próprio sangue, pois havia forças hostis ao cristianismo, que se expressavam de forma radical no governo e na cultura. Lembremos aqui o testemunho comovente de Santo Estevão, Santo Inácio de Antioquia, São Policarpo, Santas Perpétua e Felicidade e tantos outros. O Cristianismo venceu o Império Romano somente depois que milhares de mártires derramaram o seu sangue como tributo da implantação do Evangelho na Roma pagã. Em todos os lugares em que o Evangelho entrou e a Igreja floresceu, o sangue dos mártires foi derramado, como semente lançada na terra nova. Bem dizia Tertuliano, já no século III d.C.: “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. Isso podemos constatar em todos os mais de vinte séculos da vida da Igreja.

Em nosso tempo, o martírio também é necessário. Um texto da Constituição Dogmática Lumen Gentium n.42 diz que todos “devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja”. O martírio dos cristãos não é um fenômeno do passado, como na época do Império romano. Pelo contrário, do ponto de vista histórico: a época dos mártires é a nossa! Segundo um estudo estatístico do maior especialista de estatística religiosa moderna, David Barret, os mártires cristãos, desde a morte de Jesus até nossos dias, têm sido uns 70 milhões, mas, desses, 45 milhões (mais da metade) se concentram no século XX e no que já se passou do século XXI”. A cada cinco minutos, um cristão é assassinado por razão da sua fé. A cada ano, 105 mil cristãos no mundo são condenados ao martírio: um verdadeiro holocausto, do qual se fala muito pouco. O Beato João Paulo II já nos convidava a “refletir sempre sobre o fato de que o século dos mártires foi o século XX e que este século de martírio, que claramente teve alguns picos nos horrores do comunismo e do nacional-socialismo, continua, no entanto, no século XXI”.

Certamente, em relação à discriminação anticristã, algumas situações provocam mais preocupação: o ultrafundamentalismo islâmico; os países ainda influenciados pela ideologia comunista; os nacionalismos de fundo religioso em áreas como a África e a Ásia, nas quais os cristãos são considerados um corpo estranho e traidores da cultura local; e uma última que ocorre entre nós, no Ocidente, uma sutil, às vezes nem sequer tão sutil, intenção de discriminar, de marginalizar, de exilar até o limite o cristianismo, de negar a identidade cristã e as raízes cristãs, de agredir de muitas formas a Igreja e o Santo Padre. Esta última ação, muito influenciada inclusive por uma mentalidade marxista e ateísta, que despreza a religião, sobretudo a cristã.

Assim, não há dúvida de que ser autenticamente cristão no mundo de hoje é um ato de valentia. Muitos de nós talvez não chegaremos a derramar o nosso sangue, porque isso é um dom concedido a alguns, mas todos deverão passar ao menos pelo “martírio branco”, que implica acolher as consequências do real seguimento de Jesus, no qual para sermos coerentes e testemunhar a verdade do Evangelho deveremos pagar o preço de sermos incompreendidos, caluniados, julgamos, pressionados de todos os lados e, muitas vezes, desprezados. É assim que participaremos da felicidade dos discípulos de Cristo: "Bem-aventurados vós quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem contra vós toda sorte de males por minha causa, alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa no céu" (Mt 5,11-12).

Essa palavra de bem-aventurança se encaixará perfeitamente na vida daqueles que, por causa da fé em Cristo, forem contra a lógica do mundo e assim: guardarem sua pureza, forem fiéis ao matrimônio, se colocarem ao lado dos menos favorecidos, obedecerem mais a Deus do que ao Estado, quando as leis deste último forem contrárias à fé, anunciarem a Boa Notícia e denunciarem os abusos e desvios da sociedade, enfim, todos pastores que seguirem o modelo do Bom Pastor e todos os fiéis que protegerem a vida desde sua concepção até a sua morte natural, a dignidade humana, e amarem e defenderem a Igreja e a fé, lutando pela verdade, a justiça e a paz.

Sofrer por sofrer não tem sentido, sofrer por nossas próprias incoerências é pouco inteligente. Nós, cristãos, temos uma causa que vale a pena pagar qualquer preço: a fé em Cristo. “Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada a sua glória. Se fordes ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito da glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. Que ninguém de vós sofra como homicida, ladrão, ou difamador, ou cobiçador do alheio. Se, porém, padecer como cristão, não se envergonhe pelo contrário, glorifique a Deus por ter este nome” (1 Pd 4,12-16).

Os mártires da fé, de ontem e de hoje, são aqueles que entenderam que “quem ama a sua vida a perde e quem a odeia neste mundo a conservará para a vida eterna” (Jo 12,25). O mundo contemporâneo rejeita e despreza essas palavras de Cristo, fazendo do amor por si mesmo o critério supremo da existência. Mas as testemunhas da fé nos falam com seu exemplo que não consideraram o próprio bem-estar, a própria sobrevivência como valores maiores que a fidelidade ao Evangelho. E, na sua fraqueza, deixam manifestar a força de Deus, se opondo com extrema resistência ao mal. Na sua fragilidade, é refletida a força da fé e da graça do Senhor. Pois o cristão sabe que ao se decidir por seguir a Cristo não optou por um caminho fácil, mas pelo caminho certo. Ele tem consciência de que no mundo teremos aflições de todos os tipos, “mas coragem porque – diz Cristo – eu venci o mundo!”(Jo 16, 31). Somos chamados a trilhar esse mesmo caminho. Pois os mártires da fé são os verdadeiros campeões, são aqueles que chegaram ao pódio, levantaram a palma da vitória e alcançaram a coroa incorruptível, e experimentaram em suas próprias vidas que a “vitória que vence o mundo é a nossa fé! (cf. I Jo 5, 4).
 
Por: Fernando dos Santos Gomes
Coordenador Nacional do Ministério Jovem
Grupo de Oração Javé Chamma
         

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