A dimensão da “peregrinação” faz
parte do espírito da JMJ. Eis que estamos às portas, e jovens do mundo
inteiro estarão acorrendo ao Santuário Mundial da Juventude para o
encontro com Cristo juntamente com o primeiro peregrino, o sucessor do
Apóstolo Pedro, o Papa Francisco, em sua primeira viagem apostólica.
Os
jovens não virão à nossa cidade para fazer turismo, nem para outras
atividades que não seja um encontro amoroso com Cristo Ressuscitado,
abrindo o seu coração e a sua alma para acolher Cristo e a mensagem
contida no Evangelho. Virão como peregrinos. Este é o espírito da
Jornada. Por isso a acolhida simples, a caminhada para o “Campus Fidei”, o tempo de oração e reflexão.
Todas as vezes que nós vamos peregrinar, e a peregrinação é sempre a um
lugar santo, como os Santuários Marianos ou os outros locais de devoção
cristã, devemos nos preparar espiritualmente. Em primeiro lugar
precisamos fazer um exame de consciência completo de nossa vida cristã,
de nossa pertença às comunidades e de nossa adesão ao Evangelho. Eu
mesmo recordei a todos os voluntários e famílias acolhedoras para que
vivessem o tempo de espera em oração, confissão, penitência para
crescerem na fé. Somos chamados a nos arrepender de nossos pecados,
procurando deixar de lado tudo aquilo que nos afasta de Deus e da Santa
Igreja. A nossa unidade como Igreja fará a diferença nesse momento tão
importante de nossa caminhada. Também os que aqui residem podem ter o
espírito de peregrino acolhendo os irmãos na fé. Como eu sigo Jesus
Cristo? Como eu vivo o Evangelho? Esta deve ser a nossa preocupação
fundamental nesse itinerário espiritual tanto para os que chegam como
para os que acolhem os jovens aqui no Santuário Mundial da Juventude.
Assista: Jovens franceses na expectativa a JMJ Rio 2013:
Todo
ser humano é um ser em caminho. Esta característica exprime-se e
alimenta-se quer na viagem existencial de cada pessoa que percorre um
itinerário ao longo do seu tempo de vida com todas as vicissitudes que o
marcam, quer nas múltiplas viagens que ela realiza pelas estradas do
mundo, por necessidades e interesses vários. Um dos motivos para a
viagem é a fé. O homem põe-se a caminho à procura de Deus ou atraído
para o encontro com Ele: “Tu atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste
os nossos corações”. Quando o peregrino parte movido pela fé, animado de
verdadeiro espírito religioso em resposta a um apelo e impulso divinos,
então podemos dizer que ele faz uma “santa viagem”. Com o seu ato adora
a Deus, põe-se à escuta da sua voz, acolhe o Evangelho, manifesta o seu
amor e a sua fé para com Deus e cultiva a sua espiritualidade. A
peregrinação religiosa é uma constante na história da humanidade e da
Igreja. É motivada pelo fascínio exercido pelos “lugares santos” ou pela
esperança de dar passos em sua caminhada espiritual, ou mesmo para
pedir ou agradecer situações existenciais. Frequentemente, o peregrino
leva no coração a gratidão por alguma graça alcançada ou o desejo de
cumprir determinada promessa que fez. Normalmente, os santuários são a
meta das peregrinações religiosas. Pelos acontecimentos e graças que
neles se verificam, os santuários são memória viva da manifestação de
Deus e das maravilhas que Ele ali realiza em favor dos seus fiéis; são
também sinais da Sua proximidade e disponibilidade para com os homens,
beneficiados com os dons espirituais que recebem; tornam-se igualmente
lugares de esperança para alívio e consolação das tribulações e anseios
humanos.
A peregrinação, enquanto ato religioso em
direção a um lugar sagrado, constitui um memorial dos acontecimentos e
graças de Deus que nele se realizaram. Torna-se, com frequência, para
muitos peregrinos, experiência da presença e ação de Deus junto dos que
Nele confiam. E dá corpo à súplica confiante e humilde de ajuda e ação
de graças mediante atitudes, gestos e palavras.
Por isso, quem
vem ao Rio de Janeiro é um peregrino que quer se abrir ao Redentor, que
do alto do Corcovado está de braços abertos conclamando os peregrinos a
irem ao Seu Divino Encontro.
A narração evangélica da
peregrinação da Sagrada Família de Nazaré ao templo de Jerusalém,
permite-nos compreender o mais importante do objetivo e da
espiritualidade desta prática religiosa (Lc 2, 41-52). O objetivo dessa
família era cumprir a lei de Deus, adorando-O no seu templo (cf. Ex
23,16; Dt 16,16). Todo aquele que se faz peregrino centra-se em
Deus, procura escutar e obedecer a voz do Espírito que o guia nos seus
caminhos e o faz entrar na comunhão com Deus. E o fruto da peregrinação,
semelhante ao que viveu Jesus, será o crescimento em sabedoria e graça
diante de Deus e dos homens.
As peregrinações evocam
nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente
tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para os
peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para
viver "como Igreja" as formas da oração cristã.
Ao virem como
peregrinos ao Rio de Janeiro, a caminhada é para que o encontro com o
Senhor juntamente com jovens do mundo inteiro, que são muito bem-vindos,
os faça viver como discípulos à “luz da fé”, que os levem a retornar
para suas casas como animados missionários: "Ide e fazei discípulos
entre todas as nações!" (cf. Mt 28, 19). Fazer discípulos, chamar outros
para a comunhão e o convívio com o Senhor é o tema mais querido do
Evangelho de São Mateus. Esse mandato, essa missão já está anunciada em
todo o Evangelho. E, na verdade, só faz discípulo quem já é discípulo,
quem convive com o Senhor.
Neste tempo de “mudança de época”,
em que a nossa juventude assume o seu profetismo cristão nas
manifestações pacíficas e com objetivos claros de cidadania, todos nós,
como peregrinos cristãos, somos chamados a ser “protagonistas de um
mundo novo”. Por isso mesmo, o peregrino discípulo-missionário pauta sua
vida pela disponibilidade e fraternidade. Quer fazer uma verdadeira
experiência de comunhão com Cristo e com os irmãos e irmãs. Não procura
levar vantagem em nada por se colocar a serviço e tampouco desanima com
as dificuldades próprias de uma grande concentração. Ele, com isso,
ganha a pertença ao Reino, ganha a certeza do amor de Deus, ganha a
certeza de ser para os outros sinal cândido de misericórdia e de amor. O
peregrino, com certeza, ganha o levar e doar a paz do Senhor. Leva no
seu coração e reparte com os outros a esperança de tempos novos. São
frutos e dons que o mundo necessita muito e que cada um que chega como
peregrino deverá levar para sua casa. No mundo de hoje, com as
violências, guerras, corrupção, maldade, divisão, dependências e
frustrações, o peregrino é sinal que em Cristo Ressuscitado, razão única
de sua vida a esperança, tem seu fundamento.
Sejam todos muito
bem-vindos! Desejo uma boa preparação para este espírito de peregrinação
que a todos nós deve mover para ir ao encontro do Redentor!
Dom Orani João Tempesta, O. Cist
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
domingo, 14 de julho de 2013
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