Leia com atenção:
Nada
te perturbe, nada te espante, tudo passa! Só Deus não muda. A
paciência, por fim, tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta, pois
só Deus basta.
Escrita há 500 anos, essa poesia de Santa
Teresa de Jesus continua a ensinar o essencial: Só Deus basta! Mas, o
que isso significa concretamente?
Vivemos sobressaltados, preocupados. Inquietos, passamos o dia
tentando resolver mil coisas. Ansiosos, não conseguimos dormir bem.
Preocupados, acabamos por meter os pés pelas mãos no desejo de evitar
que aconteça o que nós consideramos “o pior”. Estressados, acabamos por
nos irritar contra tudo e todos. Gritamos no trânsito, gritamos em casa,
desmoronamos de cansaço.
O problema está, entre outras coisas, em
achar que sabemos o que é o “melhor” e “pior” para nós. Uma vez
estabelecido o que consideramos nos convir ou não, tomamos as rédeas
para determinar o que consideramos “melhor”. Ocorre que tudo, mas tudo
mesmo, passa e o que ontem nos parecia “o melhor”, hoje é, visivelmente,
“o pior”.
A raiz da inquietação, estresse, preocupação e
ansiedade que aos poucos nos matam, contudo, reside além do fato de tudo
passar, reside na fé.
Há a fé que acredita em Deus e reza,
contrita, o “Creio em Deus Pai”. Acreditar desse jeito, afirma São
Tiago, até os demônios crêem e tremem. Nós, até cremos, quanto a tremer…
Há
aquela “fé” que pede a Deus o que acha “necessário”, “imprescindível”,
“melhor” e fica ressentida com Deus se ele não atende seu pedido por
mais que peça através de todos os meios – diga-se de passagem, nem
sempre lícitos. É a fé infantil, diria, até, “birrenta”. Essa fé,
“contrariada”, muda de igreja quando não é atendida, assim como criança
birrenta põe cara feia e diz aos pais que não é mais filho deles.
Há a fé madura, que crê no Evangelho e na Igreja e vive seus ensinamentos, custe o que custar. É a fé dos santos.
Há
a fé que confia em Deus e a ele se entrega inteiramente, tranquila,
pois sabe que ele é Pai e sempre providencia o melhor para nós. E, para
Deus, o melhor para nós é a santidade.
É essa fé madura e
inteiramente confiante no amor de Deus que não se perturba com nada.
Sabe ser fiel a Deus e ao Evangelho na penúria e na fartura, na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença.
Essa fé madura e confiante que
é amada por Deus, não se espanta com nada. Nada a escandaliza, ainda
que seja grande tristeza. Seus olhos não estão aqui na terra, mas fixos
no céu. Sabe que, aqui na terra, tudo passa, tudo muda. Sabe que tudo
pode nos enganar e iludir. Sabe, sobretudo, que Só Deus é o mesmo
sempre. Só Deus não muda. Só o amor de Deus é sempre o mesmo, pois ele é
amor em ato. Essa fé não vive para a terra nem valoriza o que à terra
pertence. Vive para o céu, usando as coisas da terra para alcançá-lo.
Por
isso tem paciência. Não aquela paciência de auto-domínio, nem aquela que
rói as unhas e balança as pernas para controlar a impaciência interior.
Trata-se, aqui, da paciência-esperança, a paciência-fé, a
paciência-amor.
É aquela paciência que sabe que Deus está no
comando. Sabe que ele pode tudo e tudo realiza por amor. Está certa de
que, no tempo de Deus – e não no seu! – ele mesmo resolverá da melhor
forma de todas, sempre visando nossa santificação e a do mundo. Sabe
que, ainda que tudo esteja negro, verá a vitória de Deus e que essa
vitória nem sempre é tal qual pensamos.
Fé,
caridade, esperança, paciência, confiança. Quem a Deus tem, nada lhe
falta. Corretíssimo. Mas, quem é mesmo que “tem Deus”. Todos. Porém,
Santa Teresa fala aqui daquele que conhece Deus não por palavras e
teorias, mas pela oração e pelo amor. Em uma palavra, pelo
relacionamento pessoal, relacionamento de amizade. Este, que ora com a
Palavra, que tem a Deus como o centro de sua vida, que procura amá-lo em
tudo, a este, nada lhe falta. Dele cuida o Pai muito melhor do que as
aves do céu e os lírios dos campos, pois ele vale muito mais aos seus
olhos.
Nada te perturbe, homem de pouca fé! Nada te espante,
mulher de pouca esperança! Tudo, mas tudo, mesmo, passa, exceto Deus.
Fica, então, com o Único que é digno do teu amor e deixa-o cuidar de ti.
Espera. Confia. Espera sempre, confia sempre. Quem tem a Deus, quem o
conhece, quem confia nele, vive de forma diferente, vive de olho no céu e
de coração no coração de Deus. Por isso, é tranqüilo e feliz.
Só Deus basta. Dedica-te a Ele. Deixa-te amar por ele. Ama-o. Nada, então, te perturbará.
Por: Maria Emmir Nogueira
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