quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Superexposição na rede: nosso sagrado em perigo



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Todos nós sabemos que a web 2.0 – como blogs e redes sociais – nos proporciona um mundo de possibilidades sem fronteiras. A todo momento, novas amizades são feitas, milhares de fotos e vídeos são compartilhados e, cada vez mais, as pessoas – conhecidas ou não – sabem dos nossos gostos, crenças, opiniões e até sobre nossa intimidade em apenas um clique. Mas o que acontece quando este comportamento extrapola os limites da privacidade? Será que não estamos abrindo as janelas do nosso sagrado para que o mundo tenha acesso?

“Eu sempre digo que rede social é espaço público. O que você não faria e não falaria na rua, não faça e não fale nas redes sociais”, ressalta Martha Gabriel, especialista e palestrante internacional sobre Marketing Digital. Segundo a especialista, não faz sentido ficar postando, o tempo todo, o que estou fazendo, onde e por quê. “A gente tem de pensar muito no ‘por que’ está colocando aquela informação no ar, pois, às vezes, estamos nos expondo para correr riscos depois. E isso dá poder para as pessoas nos manipularem”, explica.

Confira abaixo a entrevista com Martha Gabriel sobre os perigos da superexposição

 

A verdade é que, com as plataformas on-line de relacionamentos, o ser humano deu vazão ao seu desejo mais profundo: de se relacionar. No entanto, esse comportamento pode esconder problemas de cunho psicológico, como carência afetiva, desejo de status e de poder. É como se a pessoa pudesse medir o seu grau de importância e autoestima pelo número de seguidores e pelo feedback que seus “amigos” na rede lhe oferecem.

“Muito se fala no Brasil de inclusão digital, mas pouco se fala de educação digital”, ressalta Martha Gabriel

“Hoje, as novas tecnologias estão dando às pessoas um status que elas não tinham. Então, o fato de ter milhares de seguidores, de possuir a mais nova tecnologia, como celular, tablet, etc., está dando a elas a possibilidade do ‘ter’. Então, elas acabam se esquecendo de ‘ser’ neste mundo virtual”, explica Renata Maransaldi, que integra o projeto ANJOTI da Associação Viver Bem, a qual auxilia no tratamento de pessoas com transtornos do impulso,  viciadas em jogos, compras e internet.

A superexposição no trabalho
A superexposição pode arrasar a vida profissional de uma pessoa. Em abril deste ano, uma enfermeira, de Olinda (PE), postou uma foto em seu Orkut, onde aparecia numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI), junto à sua equipe, num clima de alegria e confraternização. O problema é que o hospital não entendeu dessa forma e a funcionária foi demitida por justa causa, sob a alegação de que as fotos geraram comentários de mau gosto e exposição sem autorização de funcionários e pacientes. O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região de Pernambuco concordou com os argumentos do hospital.
“Imagine se uma pessoa apresenta um atestado dizendo que não pode trabalhar, mas quando seu chefe vai checar o Facebook dela, na verdade, ela estava na praia ou fazendo algo que mostre que ela não estava doente. Isso já pode ser usado contra ela na justiça”, ensina Martha Gabriel.

Educação digital é a solução
A superexposição está aí e devemos, cada vez mais, conviver com este fenômeno, o qual é ao mesmo tempo virtual e humano. Mas o que fazer se já estamos mergulhados neste mar de possibilidades on-line?

“Muito se fala no Brasil de inclusão digital, mas pouco se fala de educação digital. Se nós incluirmos sem educar, vamos colocar uma arma nas mãos das pessoas contra elas mesmas”, conclui Martha Gabriel.

“Sagrado” é, etimologicamente, aquilo a que o mundo não tem acesso. Todo ser humano tem o seu espaço sagrado, reservado, intocável e inviolável, mas se não expandirmos este conceito para nossos perfis na rede, vamos sofrer um colapso de identidade, seja ela digital ou humana.

 
Fonte: Canção Nova

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